terça-feira, 29 de novembro de 2011

Miguel-Manso: Um poema



BALADA DA RUA DAMASCENO MONTEIRO


ardia de amor pela casa

numa confusão de silêncios ou

dizendo de outro modo


afundava-se numa líquida recordação cardíaca


ocultos pólen pólvora fósforos

a má reputação dos dedos

paixão cartografada remota

toponímia dos enganos


braço a braço crescia alto

o incêndio no interior do peito

deliberado ritual de lâminas e pele

a transparente certeza

da cicatriz


mas ardia de amor pela casa soturna

silêncio dando para o saguão luz muitíssimo

extinta por sobre a larga extensão destruída


morrer, principalmente de amor, é

uma compendiosa tarefa doméstica


dentro do coração antigo

serei breve


Miguel-Manso, Contra a Manhã Burra, Lisboa: Mariposa Azual, Maio de 2009

Retirado do blog de poesia As Folhas Ardem

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