terça-feira, 17 de setembro de 2013

Um poema de Miguel-Manso

paraste numa rua decaída
como o Sol
o abatimento de bengala tornando
devagar a caminho de casa

única cedência da alegria:
o perfume das laranjeiras o complô
acriançado dos pássaros o branco fabuloso
desses muros – se afastasses da ideia
o aperto que arquitectam –

alguém te chamou, olhaste
saudou-te com um entusiasmo forçado e no fim
trocou o teu nome pelo nome do teu pai
(eu só te conheci a mãe)

não corrigiste esse nem nenhum
outro desacerto
(o mais premente e perturbador de todos
visto assim não tem cura)

e seguiste à sombra do teu morto
ainda mais calado


Miguel-Manso, Supremo 16/70, Artefacto, 2013.

Retirado daqui.

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