segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

"Hotel Lullaby" - Srikanth Reddy

No matter how often you knock
on the ocean the ocean

just waves. No matter
how often you enter the ocean

the ocean still says
no one’s home. You must leave

her dear Ursula. As I write this
they polish the big  

chandelier. Every prism
a sunset in abstract

or bijou foyer depending
on where you stand.

They take it apart every Fall
& call it Spring cleaning.

They bring me my tea.
They ask me my name

& I tell them — Ursula,
I don’t even know

how to miss who you left.  
So many cabanas

to choose from tonight
but only one view.

It’s the sea.
What keeps me awake

is the sound of you sleeping
beside me again my dear Ursula,

Ursula, Ursula dear — then
you’re nothing


but waves & I break.

Srikanth Reddy. Poema publicado na Jacket2. Retirado daqui.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Poema de Natal

Não digo do Natal – digo da nata
do tempo que se coalha com o frio
e nos fica branquíssima e exacta
nas mãos que não sabem de que cio


nasceu esta semente; mas que invade
esses tempos relíquidos e pardos
e faz assim que o coração se agrade
de terrenos de pedras e de cardos

por dezembros cobertos. Só então
é que descobre dias de brancura
esta nova pupila, outra visão,


e as cores da terra são feroz loucura
moídas numa só, e feitas pão
com que a vida resiste, e anda, e dura.


Pedro Tamen

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

De Cara a la Pared

foi talvez a nossa última canção.

oiço ainda os corpos a vincar a noite,
um campo minado de corações tristes
explodindo o rosto na parede.


muitas músicas depois
quando as paredes eram já outras
e nas caras se perdiam novos nomes


voltei a ela: ficara-me sempre, afinal,
um terrível verso solitário
e a culpa de a ter levado


a um coração onde as canções
morreriam de frio.


Renata Correia Botelho. Small Song. Averno, 2010.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Há dez anos que escrevo o mesmo poema - Raquel Nobre Guerra

Há dez anos que escrevo o mesmo poema
no mesmo café.
Esta ideia arrumada nesta cadeira triste
todos os dias no mesmo sítio.
Até que me venham bater à porta
ando meio distraída nisto. 

Falam-me da barbárie e dos seus irmãos brutos
mas ninguém falou ainda da flor de Coleridge
nem das pernas melancólicas dos meus amigos. 

Exceptuando isto penso no imenso com os dentes.
Penso num serviço de chá e numa porta de serviço.
Penso num chão absoluto no petróleo e na lixívia.
Penso na tua cabeça enunciativa e és um Rolls
às nove e meia da noite para toda a parte comigo. 

Exceptuando isto talvez não se morra e ninguém
desça à guerra e ao medo senão pelos livros.
Penso no amor e exceptuando isso está frio
e a mudança de hora e a jukebox
e contar-te os meus medos porque penso nisto há dez anos
que penso nisto. 
Cruz na porta da tabacaria e o teu cabelo
cortado à escovinha.
Há dez anos que desconfio do mesmo poema 

forma inteira do homem para diante
e de diante para o abismo
  
E poder ser livre e fumar na cama
com a excitação de arder numa linha. 

É que Sócrates nunca escreveu.
Milton ao menos fingia.
No fim de contas caía bem.
Um Kropotkin e uma bica.

E convicção ser do teu signo.
Porque uma coisa nos atraía.
Fome não era adição.
Erecção não era cinismo.
Porque havia motivo para risos. 

Tu nunca te atrasaste.
Tu nunca te mataste.
Porque enfim não mentiste 

que há dez anos que escreves o mesmo poema 

tu que só queres o sol
para descê-lo para descê-lo
ilha dos amores  

no mesmo corpo no mesmo casaco
apoiado à esquerda do meu braço.

Publicado no nº2 da Enfermaria 6, Julho 2014. Retirado daqui.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Before - Sean O'Brien

Make over the alleys and gardens to birdsong,
the hour of not-for-an-hour. Lie still.
Leave the socks you forgot on the clothesline.
Leave slugs to make free with the pansies.
The jets will give Gatwick a miss
and from here you could feel the springs
wake by the doorstep and under the precinct
where now there is nobody frozenly waiting.
This is free time, in the sense that a handbill
goes cartwheeling over the crossroads
past stoplights rehearsing in private
and has neither witness nor outcome.
This is before the first bus has been late
or the knickers sought under the bed
or the first cigarette undertaken,
before the flush and cross word.
Viaducts, tunnels and motorways: still.
The mines and the Japanese sunrise: still.
The high bridges lean out in the wind
on the curve of their pinkening lights,
and the coast is inert as a model.
The wavebands are empty, the mail unimagined
and bacon still wrapped in the freezer
like evidence aimed to intrigue our successors.
The island is dreamless, its slack-jawed insomniacs
stunned by the final long shot of the movie,
its murderers innocent, elsewhere.
The policeman have slipped from their helmets
and money forgets how to count.
In the bowels of Wapping the telephones
shamelessly rest in their cradles.
The bomb in the conference centre’s
a harmless confection of elements
strapped to a duct like an art installation.
The Première sleeps in her fashion,
Her Majesty, all the princesses, tucked up
with the Bishops, the glueys, the DHSS,
in the People’s Republic of Zeds.
And you sleep at my shoulder, the cat at your feet,
and deserve to be spared the irruption
of if, but and ought, which is why
I declare this an hour or general safety
when even the personal monster –
example, the Kraken – is dead to the world
like the deaf submarines with their crewmen
spark out at their fathomless consoles.
No one has died. There need be no regret,
for we do not exist, and I promise
I shall not wake anyone yet.

Sean O'Brien. Emergency Kit. Edited by Jo Shapcott and Matthew Sweeney. Faber & Faber, 2004.
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