sábado, 31 de março de 2018

"American Still Lives" - Diane Seuss

Still life with stack of bills phone cord cig butt and freezer-burned
Dreamsicle
Still life with Easter Bunny twenty caged minks and rusty meat 
grinder
Still life with whiskey wooden leg two potpies and a dead
parakeet
Still life with pork rinds pickled peppers and the Book of 
Revelation
Still life with feeding tube oxygen half-eaten raspberry Zinger
Still life with convenience store pecking order shotgun blast to 
the face.

From Still Life with Two Dead Peacocks and a Girl: Poems

domingo, 25 de março de 2018

Um poema de João Miguel Fernandes Jorge

Retrato de Agripina-A-Antiga
Querem os traços da minha face? Aqui, no
exílio da pequena ilha enterrei o chão intacto
da memória — as noites nas areias de um palmar
pelas margens do Oraontes;
e a cidade, Antioquia, nos banhos
gentios, gregos, judeus
— a sabedoria, montículo de velhas ruínas que visitava.
O meu retrato? Agora, suspeito que não passa de
um sepulcro sem nome
todavia a face tem ainda majestade e a paixão de
um ramo de bagas vermelhas o regaço
um espinho rasga-me a pele
no rubro de pétalas, em íntima mistura se transluz
com o lustro e a cor do lacre
nesse vaso que contém as minhas cinzas.
O meu retrato? As ervas do verão, espigas
secas cresceram ao redor.
Trouxe-o para a beira do mar da ilha. Caranguejos
sobem pelo meu lado, enegrecem a gratidão dos
olhos, prendem-se-me à raiz dos cabelos; perfumam-
-me de maresia. Da vida espero o mesmo que
da poesia da morte – depósito de restos, arqueologia.

terça-feira, 20 de março de 2018

Pequena Crónica de Ana Magdalena Bach - Maria Andresen

(Straub e Huillet)

Assim são as coisas, a tua morte
as passagens por silêncios reservados
entre uma cidade e outra
e as diferentes fisionomias dos seus príncipes
e as necessárias formas de rogar

Assim a mina prosa clara
- tão rente a quero ao mudo acontecer -
abarque o pormenor e não lhe toque;
abarque o rosto inverosímil

A fracção do acaso
sem um abrigo na frase
e o seu estar de peça descontínua

Lugares. Lisboa: Relógio d'água editores. 

quarta-feira, 14 de março de 2018

Um poema de Victor Heringer

Meridiano 43
w/e



Gostamos muito de crises, nós.
Nós quem, cara pálida (ocidental
after all afinal we do). Nós de todos nós.
Vá para o Leste, sangria desatada;
antes o Rio nos espera (longe carnaval)
nos cubos da noite c/ punhais d’inverno.
.......– Não posso não devo não posso – repete
.......o tísico ao lado salta páginas de Pascal.
Casebre barulho tontura de assoalho.
Desça daí, olhe o planalto. Precário
bisturi esterno chão desenhado a falta.

Aftas a marchar nos olhos do tísico
em breve em breve vou com ele.
(Itinerário: Վանա լիճ e دریاچه ارومیه,
mares nossos, salinidades internas)
A cor e o corte serão elogiados
nas barbearias das fronteiras.
Até Teerã, reúno tosses e digo:
– Carrego na testa uma franja pesada,
que, dia sim/não, ainda cabisbaixa.