sábado, 23 de novembro de 2019

Um poema de Ramiro S. Osório

Excerto

na escola
quiseram ensinar-me
a ser infeliz
não quis
quando for grande quero ser eu
quero ser grego
um eu que rejeita ser adoptado
um eu que adopta ítaca
quando for grande quero ser o mar
quero ser os olhos marejados
de ulisses

terça-feira, 12 de novembro de 2019

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Um poema de Adolfo Luxúria Canibal

É demencial Não há palavras que
consigam dizer o horror
Vi um pobre homem agarrado ao que
restava da sua mulher
Errando pela baixa
Os olhos fixos num horizonte perdido
Sem uma palavra Sem um som
Arrastando a carcaça desfigurada
Por entre o trânsito do fim da tarde
Passei sem conseguir dizer nada
Ninguém dizia nada O silêncio
Acompanhava o olhar vazio A dor
A vaguear por entre as ruínas e o trânsito do fim da tarde
As pessoas apressavam-se por causa
do cair da noite
E o pobre homem seguia um destino
sem rumo
Arrastando o seu cadáver

Adolfo Luxúria Canibal. No Rasto dos Duendes Eléctricos. Porto Editora, 2019.