Poema inédito:
I
comprometemo-nos com a palavra
e não ganhamos nada, apenas a aventura
da incerteza quando o que dizemos toma conta de nós
como um fogo e decidimos contar ao mundo como é belo
o poder, como é terrível o poder
como as mãos tremem ainda
na ponta da caneta desenha-se a extensão de um canivete
que começa a cortar, empilhando as letras como nas palavras cruzadas
um jogo de idade que nos toma todo o tempo do mundo,
um jogo complicado onde a mente empata com a voz
porque a mão não se decide a escolher
qual o termo exacto, qual a maneira mais certa de dizer
falar para o papel
a difícil arte faz-nos suar temporariamente e viaja na nossa
cabeça enquanto experimentamos a passos pequenos um lado
do passeio, depois outro
o corpo a andar, esquerda, direita
e, por vezes, impreciso pára e recomeça
a caneta
desliza lentamente agrupando as ideias
para, em seguida, as espalhar como uma colagem
e isto é tudo o que acontece
como acontece ao corpo
querer dizer e não poder falar
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