quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

A poema by Angela Readman

Beatrix Potter’s Bed


I never told you how when I saw the sows
birthing I could no longer draw pigs in red velvet.
The sounds curl around me like tails, drag me
back to watch you digging all day. One hand
brushes a fringe from your eyes, we look,
rabbits in our garden, eyes hopping into holes.
The sky’s a blue jacket, snared on a fence,
I suppose tonight we’ll try again. But, for now,
we have daylight to farm, hours to bump into,
glimpses of each other to snatch. You: lips wind raw,
knee deep in sheep. Me: knuckles radish red/white
pounding dough. Tonight we will pull back the sheets
like squirrels making a raft of twigs, open the basket
and pour a hundred pictures the day paints of us
over the bed, so full, I can’t see room for more.


Retirado daqui.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Os últimos frutos - Fernando Guerreiro


Que os últimos frutos sequem, nem por isso deixam de
                                             ser os mais apetecidos.
As próprias estações confundem-se num frasco de
                                                          compota
de cujo fundo inúmeras gerações parecem ter saído.
Leva-se a mão ao fruto e um ardor consome-se na boca –
álcool de que o sentimento impróprio decai: enxuto,
                                                            ressequido.
Ah, deixa-me beijar a tua boca – até que do fundo
de um sabor a mosto eu me sinta recluso e excluído.
Liofilizados, antes da estação, agora caem os frutos.
Uns dão a luz ao dia, outros, à morte, um sentido
                                                     inapetecido.

Poesia Digital. 7 Poetas dos Anos 80. Campos das Letras, 2002.

Retirado daqui.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

NA SENSAÇÃO DE ESTAR POLINDO AS MINHAS UNHAS - Rosalina Marshall


sei que morrerei no dia do aniversário da minha morte
ainda há coisas certas na vida
o dia do aniversário da minha morte apresenta tamanha discrição

que nem dou por ele
portanto não mudarei de roupa
talvez passe o dia deitada
no displicente descanso
de não atender telefones
nem me levantarei para ir ver o correio
e se alguém se lembrar de me acender
as inconsequentes velinhas
deixarei que derretam e estraguem o bolo
no dia do aniversário da minha morte
nem me penteio
Manucure, Companhia das Ilhas, 2013

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Light Pollution - Nick Laird


You’re the patron saint of elsewhere,
jet-lagged and drinking apple juice,
eyeing, from the sixth-floor window,
a kidney-shaped swimming pool
the very shade of Hockney blue.

I know the left-hand view of life,
I think, and it’s as if I have, of late,
forgotten something in the night —
I wake alone and freezing,
still keeping to my side.

Each evening tidal night rolls in
and the atmosphere is granted
a depth of field by satellites,
the hammock moon, aircraft
sinking into Heathrow.

Above the light pollution,
among the drift of stars tonight
there might be other traffic —
migrations of heron and crane,
their spectral skeins convergent

symbols, arrow, weather systems,
white flotillas bearing steadily
towards their summer feeding.
A million flapping sheets!
Who knows how they know?

The aids to navigation might be
memory and landmarks,
or the brightest constellations.
Perhaps some iron in the blood
detects magnetic north.

I wish one carried you some token,
some Post-it note or ticket,
some particular to document
this instant of self-pity —
His Orphic Loneliness, with Dog.

Advances? None miraculous,
though the deadness of the house
will mean your coming home
may seem an anticlimax
somehow, and a trespass.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Um poema de Rita Capucho

não somos

feitos distâncias

não somos

feitos lembranças

não

sabemos saudade

sentimos

outras coisas

não sentimos

essa dor

essa infelicidade

do nosso amor

não

vivemos

um amor ausente

antes a dor

de um

amor

ausente

que a dor

de não

sentir

essa dor


Rita Capucho