terça-feira, 25 de junho de 2013

Martin Parr (1952-)

Martin Parr 
                                 GB. England. New Brighton. From 'The Last Resort'. 1983-85.
Retirado daqui.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Um poema de José Duarte


o dia começa a encolher
como os corpos

retiram-se dos armários
roupas que a naftalina cristalizou

para o bem da circulação

Uma Certa Estação, a sair um dia destes


quarta-feira, 19 de junho de 2013

A poem by Michael Madsen


it is not as if the lights were dim
indeed silver is black
and the day as dark
sitting silently in a sliver of ray
the sun is whole again
forgotten is the excuse of night
he falls responsibly
and the day is dark
floating frightfully from that of grace
a soul is awake again
blind from that which is love
the prism of shackles and chains
darkness becomes the way
easterly dreams seek shelter from the weak
running from rain ... eclipsed

Retirado daqui

segunda-feira, 17 de junho de 2013

A Balada do Café Triste - Pedro Mexia


Comprei-lhe «A Balada do Café Triste»
depois de quase ter passado por ladrão
de livros, mexendo-lhes sem olhar
para eles enquanto rondava de todos
os lados aqueles olhos que se viam
de qualquer ponto da feira, mesmo
se houvesse obstáculos o verde
atravessava-os, o verde tornava tudo
verde entre mim e ela, e no meio
dessa cor unânime a rapariga
era ainda mais. Pouco importa,
leitor, se houve depois alguma história,
entre homem e mulher não se passa
muito mais: uns olhos que de repente
são necessários e pelos quais passamos
por ladrões de livros ou pior.
Nunca li «A Balada do Café Triste».

Menos por Menos, D. Quixote, 2011.

sábado, 15 de junho de 2013

Cinema


O Espaço Nimas continua a dar-nos cinema de excelência.
Não percam o ciclo de cinema familiar todos os Domingos às 15h30 e cinema clássico todas as Segundas às 18h30.


sexta-feira, 14 de junho de 2013

AS COISAS DO CORPO - Inês Fonseca Santos



Demasiado internas para lhes conhecermos os contornos.
Demasiado ocultas para lhes saber as razões.
Ostensivas, as coisas do corpo exibem-se perfeitas. Segundos
em que cheguei a odiá-las. Estavam demasiado longe
dos lugares a que devíamos regressar quando eu envelhecesse.
Puxei-te pela mão. A mão soltou-se do teu corpo.
Coloquei-a no lugar do coração; com as unhas
construí um fecho novo para o colar de pérolas;
vendi a pele e voltei a encher o frigorífico.
Alguém se sentou à mesa. Tinha o teu nome gravado;
um rosto sem marcas, irreconhecível,
aguardava a mão capaz de lhe levar coisas à boca.
Coisas de alimento às coisas do corpo. Como esta mão a bombear-te
o coração do lado errado do peito.
As Coisas, Abysmo, 2012.

domingo, 9 de junho de 2013

MÓBIL E CADERNO DA TERRA - Miguel-Manso


o arcebispo de Armagh calculou em 1650 
que o mundo começou no ano lacónico de 4004 a. C. 
no dia 26 de Outubro às 9 horas da manhã 

(a 10 de Novembro 
menos de um mês depois 
dá‑se a expulsão do Paraíso) 

como se tivessem disposto salsa ou hortelã num vaso 
ou feito explodir a estação pura de dentro da era 
grotesca dos patriarcas 

nessa manhã séculos depois 
Erwin Schrödinger bebia da boca de um pássaro um oceano novo 
colapso chamemos‑lhe assim de um abacate verde‑abacate 
poisado na fruteira da cozinha muitos metros afastada 
do início dos tempos 

olho a Terra, vazia, incomum 

fique o leitor apenas pelas assunções do poema 
único método de mover o desusado tecido da realidade 
sumo de um cacho amargo a minha grande surpresa 
cacho de teóricas uvas uma maçã de asserto quântico 
polpa, dígito, osso malar 

primeiríssimo calendário 

in Tojo, Relógio d'Água, 2013 
(Uma antologia de poemas de Miguel-Manso)

terça-feira, 4 de junho de 2013

ALEXANDRA LEAVING / ALEXANDRA LOST - Catarina Barros


vim sentar-me n’O Lírio como em tempos
me sentei nas esplanadas da Albisriederplatz
não há aqui menos estrangeiros nem eu

me sinto menos só. na igreja de São Domingos
rezam a missa: Ich bin der Weg, die Wahrheit
und das Leben; alheios a isto, um homem

transporta cervejas para a tasquinha A Sacristia
e mulheres de lenço cruzam-se no pronto-a-vestir
Gao Jinyuan. Lisboa não podia

estar mais feliz do que neste snack-bar onde
nem o acento grave, como é tão habitual na nossa
restauração, se fez substituir pelo agudo:

cozido à portuguesa
vinho branco à pressão
hà sopa da pedra


não importa o postal Fábrica dos Produtos Coração
que não cheguei a enviar, nem os tão mal
remunerados trabalhos do amor, nada do que

não pude concluir, as aulas de ballet, o curso de piano,
o plano de recuperação da mãe. distribuo cigarros,
não me furto aos cinco cêntimos (são p’ra comer)

e reparo, antes de abandonar a cena rumo à Praça
dos Restauradores, num anúncio que me tinha passado
despercebido: hà rapariga sem nada a perder