terça-feira, 21 de março de 2017

Um poema de Marta Bernardes

Ninguém sabe ao certo
Como é que o tempo caminha
Se é como a areia do deserto
Ou se é em forma de linha.

Se nos atravessa como uma flecha
Ou se nós é que o fazemos existir
Se rodopia, se abre e fecha…
Um círculo que vive a ir e a vir.

Se é como nenúfares
Que podemos saltar
Para trás e para a frente

Ou se é como o vento
Que não vemos
Mas levanta os cabelos à gente.

Marta Bernardes. Ícaro. Lisboa: Mariposa Azual, 2016.

quinta-feira, 16 de março de 2017

Nó - Daniel Jonas

Do ventre da baleia ergui meu grito:
Senhor! (dizer teu nome só é bom),
Em fé, em fé o digo, mesmo com
Um coração pesado e contrito
Que és de tudo verdade e não mito,
O coração do amor, de todo o dom,
Conquanto seja raro o bem e o bom
E toda a luz aqui me falhe, és grito
Que chama toda a chama de esperança
E acorda a luz que resta à réstia eterna,
Conquanto viva o mártir na espelunca
Da vida (quem espera amiúde alcança):
Possa o nazireu preso na cisterna
Sofrer de ser só tarde mas não nunca. 


Daniel Jonas. . Assírio & Alvim, 2015.