o arcebispo de Armagh calculou em 1650
que o mundo começou no ano lacónico de 4004 a. C.
no dia 26 de Outubro às 9 horas da manhã
(a 10 de Novembro
menos de um mês depois
dá‑se a expulsão do Paraíso)
como se tivessem disposto salsa ou hortelã num vaso
ou feito explodir a estação pura de dentro da era
grotesca dos patriarcas
nessa manhã séculos depois
Erwin Schrödinger bebia da boca de um pássaro um oceano novo
colapso chamemos‑lhe assim de um abacate verde‑abacate
poisado na fruteira da cozinha muitos metros afastada
do início dos tempos
olho a Terra, vazia, incomum
fique o leitor apenas pelas assunções do poema
único método de mover o desusado tecido da realidade
sumo de um cacho amargo a minha grande surpresa
cacho de teóricas uvas uma maçã de asserto quântico
polpa, dígito, osso malar
primeiríssimo calendário
in Tojo, Relógio d'Água, 2013
(Uma antologia de poemas de Miguel-Manso)
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