sexta-feira, 14 de junho de 2013

AS COISAS DO CORPO - Inês Fonseca Santos



Demasiado internas para lhes conhecermos os contornos.
Demasiado ocultas para lhes saber as razões.
Ostensivas, as coisas do corpo exibem-se perfeitas. Segundos
em que cheguei a odiá-las. Estavam demasiado longe
dos lugares a que devíamos regressar quando eu envelhecesse.
Puxei-te pela mão. A mão soltou-se do teu corpo.
Coloquei-a no lugar do coração; com as unhas
construí um fecho novo para o colar de pérolas;
vendi a pele e voltei a encher o frigorífico.
Alguém se sentou à mesa. Tinha o teu nome gravado;
um rosto sem marcas, irreconhecível,
aguardava a mão capaz de lhe levar coisas à boca.
Coisas de alimento às coisas do corpo. Como esta mão a bombear-te
o coração do lado errado do peito.
As Coisas, Abysmo, 2012.

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