em cidade alguma
consegui encontrar o descanso
sei-o agora que atravesso
este rio
o tejo ondula
lentamente, as suas linhas de água
enconstam-se à beira da terra
namorando as margens
tiro um kodak, abrevio
por momentos a solidão
gravo as luzes viradas
ao contrário que
manifestam o vazio
escuro das ruas
se há algum ruído
não o detecto
levo alguma música
comigo:
new york is killing me
de gil scott-heron toca
ao longe vejo
ainda alguém que
termina a noite
encostando-se
a uma garrafa
qualquer
penso nas pessoas que
se dissolvem como cinzas
no caminho para casa
há ainda o lento sabor da noite
e a solidez de alguns prédios
afasto-me e recordo
o triunfo da morte
de peter brueghel
suspiro, coloco de novo
a mochila às costas
as luzes do barco
oscilam, tremem
obedecem ao movimento
irregular
regresso aos portos
alguns deles até sei
os seus nomes de origem
e espero encontrar em
alguma cidade
o repouso
Da série Biografia não Oficial
(A sair um dia destes)
José Duarte
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