Não sei bem há quanto tempo já não escrevo nada. Ou melhor, vou escrevendo, mas sinto que não estou no caminho certo, e rapidamente fico cansado. Talvez seja esta coisa toda de tentar forçar algo de brilhante - como se isso fosse possível - e nem sequer falo de poesia ou, eventualmente, sobre um pedaço de não-ficção bem escrita. Custa avançar a passos lentos, evito todos os pequenos momentos para voltar à escrita porque sei que vou querer apagar tudo o que tinha escrito com tão boa vontade e de forma tão alegre. É sempre assim: no dia seguinte parece que acordo noutro lugar e que as palavras usadas não têm qualquer sentido. Isto não é só perfeccionismo. É outra coisa qualquer. É uma capacidade qualquer de comprometimento com a escrita que, na maior parte das vezes, parece não querer acontecer.
Ainda no outro dia uma amiga minha dizia que os homens (alguns, note-se) são muito infantis. É normal, disse-lhe eu, falta-lhes um certo sentido de comprometimento com as coisas. Quando as mulheres já estão prontas para seguir em frente na vida, casar e ter um filho, os homens ainda estão a pensar na melhor forma de derrubar os pássaros no próximo nível do "Angry Birds". É assim as regras: alguns de nós funcionam dia-a-dia o que, de resto, é cada vez mais um reflexo desta crise. Talvez por isso também eu me sinta em crise na escrita e quanto mais penso nela pior.
Mas não posso fazer nada a não ser abrir o documento word, continuar a olhar para o que já escrevi com um certo ar irritado, pensar como seria bom apagar tudo o que tenho, escrever de novo, e, no dia seguinte, acordar no mesmo lugar. Mas sei bem que cada dia é um novo lugar, cada dia é uma nova forma de escrever, de dizer o que me rodeia. Se fosse de outra maneira seria monótono e irritante. Abro o documento, olhos para as palavras, começo a cortar e substituir expressões, frases e sei que este vai ser mais um daqueles dias. Às vezes, para relaxar, tenho uma página aberta no "Angry Birds" e sempre me distraio.
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