A ESPERA
Éramos ainda tão novos quando aprendemos
a fingir os movimentos do volante e das mudanças,
a disfarçar a ansiedade da espera
nos cliques da regulação dos faróis.
O som oco dos pedais pressionados
pelos nossos pés minúsculos,
tudo a mover-se a uma velocidade inabitável.
Eu e o meu irmão, de madrugada,
imitando o ruído do motor com os lábios,
apontados para a fachada daquela cervejaria
que nos retinha sem razão, conduzindo
numa quilometragem de medos,
dali para fora.
Doze passos atrás. Artefacto, 2013, p. 38
Retirado daqui.