Estar em apuros.
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Deixar um grande amor em Port Authority. Ouvir música pelas ruas ocupadas de Times Square. Cliché: a luz é tanta que parece que é sempre de dia.
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Pensar que sou um flâneur moderno, a ouvir Sharon Van Etten. O sol a esconder-se por as avenidas.
Eu a caminho.
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Um pequeno momento e eu distraio-me. Ruas já não são ruas. Vejo pequenos bairros e lembro-me das excelentes descrições de Paul Auster. É aqui a vida acontece, a verdadeira vida.
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Penso: estou a caminho de Union Square, mas não a encontro. E não interessa. Não me faz diferença estar perdido. É, aliás, condição em que me tenho encontrado nos últimos tempos. Ouço Sharon Van Etten - penso num grande amor - e as ruas parecem mais encantadas.
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A primeira vez em NY, local de encontros de desencontros, de amores e desamores. Um cigarro meio desajeitado nas mãos que nem cheguei a fumar. Dei-o ao sem-abrigo que mo cravou. De dia ou noite a cidade nunca pára.
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No primeiro dia em que cheguei Sharon Van Etten ia dar um concerto. Não conhecendo a cidade tive algum receio. Agora encontro-me completamente perdido - "Every Time the Sun Comes Up" é a música da minha desorientação geográfica. Mas não me preocupo. Nunca me preocupo nestes casos.
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Telefono a avisar que vou chegar atrasado. Não é fácil deixar um grande amor. Nada fácil. Perder-se nesta cidade é menos complicado do que um grande amor. Mas também não é difícil encontrar um lugar.
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Vários Kms depois, sem preocupações, um punhado de música fabulosas nos meus ouvidos, pergunto: "Excuse me sir, I am looking for Union Square."
Pegou no telefone, iniciou a aplicação e disse: "Just walk 5 minutes straight ahead".
E lá estava eu.
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