Retrato de Agripina-A-Antiga
Querem os traços da minha face? Aqui, no
exílio da pequena ilha enterrei o chão intacto
da memória — as noites nas areias de um palmar
pelas margens do Oraontes;
e a cidade, Antioquia, nos banhos
gentios, gregos, judeus
— a sabedoria, montículo de velhas ruínas que visitava.
O meu retrato? Agora, suspeito que não passa de
um sepulcro sem nome
todavia a face tem ainda majestade e a paixão de
um ramo de bagas vermelhas o regaço
um espinho rasga-me a pele
no rubro de pétalas, em íntima mistura se transluz
com o lustro e a cor do lacre
nesse vaso que contém as minhas cinzas.
O meu retrato? As ervas do verão, espigas
secas cresceram ao redor.
Trouxe-o para a beira do mar da ilha. Caranguejos
sobem pelo meu lado, enegrecem a gratidão dos
olhos, prendem-se-me à raiz dos cabelos; perfumam-
-me de maresia. Da vida espero o mesmo que
da poesia da morte – depósito de restos, arqueologia.