quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Al Berto 11/1/1948

Mais Nada se Move em Cima do Papel

mais nada se move em cima do papel

nenhum olho de tinta iridescente pressagia

o destino deste corpo

os dedos cintilam no húmus da terra

e eu

indiferente à sonolência da língua

ouço o eco do amor há muito soterrado

encosto a cabeça na luz e tudo esqueço

no interior desta ânfora alucinada

desço com a lentidão ruiva das feras

ao nervo onde a boca procura o sul

e os lugares dantes povoados

ah meu amigo

demoraste tanto a voltar dessa viagem

o mar subiu ao degrau das manhãs idosas

inundou o corpo quebrado pela serena desilusão

assim me habituei a morrer sem ti

com uma esferográfica cravada no coração

Al Berto, “O Medo”

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