segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Feliz Natal

Imagine striking a match that night in the cave:
use the cracks in the floor to feel the cold.
Use crockery in order to feel the hunger.
And to feel the desert - but the desert is everywhere.
Imagine striking a match in that midnight cave,
the fire, the farm beasts in outline, the farm tools and stuff;
and imagine, as you towel your face in the towel's folds,
the bundled up Infant. And Mary and Joseph.
Imagine the kings, the caravans' stilted procession
as they make for the cave, or rather three beams closing in
and in on the star; the creaking of loads, the clink of a cowbell;
(but in the cerulean thickening over the Infant
no bell and no echo of bell: He hasn't earned it yet.)
Imagine the Lord, for the first time, from darkness, and stranded
immensely in distance, recognising Himself in the Son,
of Man: homeless, going out to Himself in a homeless one.

De 
Nativity Poems por Joseph Brodsky, publicado por by Farrar, Straus and Giroux, 2001, traduzido por Seamus Heaney

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Um poema de Jorge Roque


Quero que se foda o sublime. A minuciosa construção do absoluto literário. Assim sem emendas e em rigoroso vernáculo, parece-me mais exacto. Quero que se foda o sublime (desculpem-me a repetição). Prefiro portas fechadas, casas destruídas, chaves de pouco ou nenhum uso para gestos de pouca ou nenhuma glória que são o absoluto onde me posso sentar para beber mais um copo deste vinho que te pinta os lábios e te acende nos olhos esse fulgor de luz, esse pulsar de salto, onde me lanço para voltar ou não voltar, mas ter cumprido do sangue o impulso. Quero que se foda o sublime (começa a saber-me bem repeti-lo, o ritmo sincopado conjugado com a limpidez expressiva). Estou a falar contigo, a viver contigo, a morrer contigo. Estou a dizer-te ama comigo, sofre comigo, morre comigo um pouco mais devagar.
in Canção da Vida, Averno, 2012

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

COL DE PEYRESOURDE - Hugo Milhanas Machado



No dia em que te toquei a trança
tempo tive de ficar de frio na janela
o leite derramava na cozinha
ia muito devagarinho e descia
desenhava um nome no chão

Pensar em ti era só pensar em campeões
ou como fiz ir dentro ver o Tour de França
eu que gostei de ti no dia em que te toquei a trança
e só ficou a marca de leite na planta do pé
as letras brancas e inclinadas nas estradas

 As Junções, Lisboa: Artefacto, 2010. 

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Um poema de José Tolentino Mendonça


Os Justos

Começam o dia louvando o imperfeito
O tempo que se inclina para o lado partido
as escassas laranjas que se tornam
amarelas no meio da palha
as talhas sem vinho
Olham por dentro a brancura da manhã
e em tudo quanto auxilia um homem no seu ofício
louvam o vulnerável e o inacabado

Estão sentados à soleira dos espaços
trabalhados devagar pelo silêncio
Quando Deus voltar
não terá de arrombar todas as portas

in Estação Central, Assírio & Alvim, 2012.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Dias de Tempestade


Dias de Tempestade
Edição de autor, 96 páginas.

Design de Sara Didelet

O lançamento está para breve. Este livro já pode ser adquirido via mail

O preço de venda é 10 euros (mais portes de envio, caso o livro seja enviado por correio).

Lisboa


Cais das Colunas, Eduardo Gageiro, 1973

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

In a Station of a Metro - Dan Beachy-Quick


Peace fell on the dim lands a sort of abstraction
The metronome counted one petal after another
So the petals fell as or in some music
This song needs no breath just an apparition
With a mouth open and eyes and eyes
The wet smear of eyes beneath pink
Petals in excess of the window frame’s bright
Yellow square and yes spring gathers right now
The moisture from my breath up into clouds
Whose downpour makes of the plum tree in blossom
A diminishing crowd for which the natural symbol
Refuses to exist a plain blue gem on a pin
Faces glowing within the stone like flowers
Within the stone like flaws the mind turns inward
Turns inward its tangle of wet black boughs
A knot pulled tight so tight it ceases to be

A knot yes I’ll say it a knot that becomes angelic
Another example everywhere seen of the angelic
Gears toothless and without cogs a sort of mist
That turns the other gear by drifting through it
As just now through my eye drifts that storm
Battered tree whose broken-petal pocked bark
Asks of me a question my mouth can’t speak
Like a river that dives underground just there
There where the animals thirst the most
A desert fox say or say a toad or let’s speak more simply
About a plum which bursts through its own explosion
Into being and hangs there so ponderously
As if as if not concerned with innocence or
Gravity or other acute angles as they evaporate
Into this poem O no am I speaking again again about
dim lands these dim dim lands of of peace

Source: Poetry (December 2011).

Mais aqui.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Ps(alm) for Awful - Laynie Browne



Now returned from
a place of careful speech
to a place of no speech at all
She said, push him off a mountain
never again
something about voice



The town has no skirts
out



A better reply
than to tell the truth
or to lie
something that reveals neither false construction



Stop dreaming someone hates you
(and how to love other fundamental problems)



To write what will never be read
for this each notebook was made



I am in a primordial place
not feeling primordial
not arisen



I can still trust curiosities
pictures of forsaken sky
text as trust and texture
awnings of inevitable leverage



Beneath the land lies
a remote glance



The book of last dresses
the book of oceanic curls
the book of blue

Mais aqui.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Um poema de Daniel Jonas

ELEMENTÁRIO

O verdadeiro sentido das palavras
é que o poema consiste
em falar do que não pode ser dito a quem
se quer dizer

ou o verdadeiro sentido das palavras
é que o poema consiste
em não falar do que pode ser dito a quem
se quer dizer

ou o verdadeiro sentido das palavras
é que o poema consiste
em não falar do que não pode ser dito a quem
se quer dizer

ou o verdadeiro sentido das palavras
é que o poema consiste
em falar do que pode ser dito a quem
se não quer dizer

isto, claro, partindo do princípio
de que há um sentido das palavras,
verdadeiro, um poema e um
a quem se queira dizer.


Daniel Jonas