quarta-feira, 13 de março de 2013

Um poema de Rui Pires Cabral

Veneza

Falaste a noite toda sobre a vida na Colômbia
com o rastro dos postes intermitindo no teu rosto
atento, quase hierático. Tinha havido a comoção
provocada por Gabriella na cabine dos jugoslavos
e aquele italiano ruivo repetindo pedagogicamente
paesi, castelli, àlberi, uma ladainha para pontuar
o curso obstinado da nossa travessia.

Por fim restava a madrugada sobre a água recolhida
na laguna – por que me senti tão desarmado quando vi
as fachadas de Veneza? E tu disseste que talvez
nos voltássemos a encontrar, eram seis da manhã no silêncio
por onde os canais cumpriam mais depressa
a sua lenta função.

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