segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

o mar em chamas

todos os livros que leio me falam da tua morte
mas não se pode acreditar em tudo o que se lê
e sabendo embora que a tristeza não existe
não posso deixar de me sentar com a cara apoiada numa das mãos

a vida é uma doença de que alguns se curaram
passo os dias sentado num café à distância
e entre mim e mim existe já uma intimidade insuportável
(como dar de novo ouvidos aos meus mestres de outrora?)

fui dos que julgaram ter nascido para tornar grande o mundo
mas atrasei-me de propósito num quarto cheio de homens
- procuro perceber que é o tempo que me cabe -

uma noite fui visto a lançar fogo ao mar

Bernardo Pinto de Almeida. e outros poemas. Quetzal, 2002.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

NEIGHBORHOODS - Bruna Beber

se o mundo não fosse
esse aterro de
máquinas
barbas
pilhas

débitos
prazos
e canetas
marca-texto

medos
dúvidas
e embalagens
tetrapak

se o mundo não fosse
um aterro de babacas
ou se o mundo não fosse
um abrangente 
e resumindo
aterro de sinônimos

e se essa rua
se essa rua
fosse tua
eu ia me mudar para lá.

Bruna Beber. balés. Lingua Geral, 2009.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

The Roses - Katherine Towers

Because my father will not stand again
beneath these swags of Himalayan Musk
nor stare for hours to see which stems are safe

and which need tying back, I have it in my mind
to let the roses pull our house down slowly
for a hundred years. Then I’ll come back

to find its wreck of thorns and brick, my father
lying on the bed in which he died
and blinking in the petal-scented light.

The Remedies. Katherine Towers. Picador, 2016.