“Books are finite, sexual encounters are finite, but the desire to read and to fuck is infinite; it surpasses our own deaths, our fears, our hopes for peace.” ― Roberto Bolaño
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
E a Alice tem destas coisas
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
Death is a Drummer, Manuel de Freitas
demasiado claro, o silêncio tomba
sobre as ruas da cidade - e Junho
é um mês difícil, digam o que disserem
os ingleses e os poetas promovidos
pela cruel certeza de Abril. Junho,
ao domingo: no meu bairro fecharam
as lojas, as mercearias e os restaurantes.
Aberta, no entanto, a agência funerária,
mesmo em frente à casa de um poeta
amigo. E as tabernas que sobrevivem
- calçada dos Mestres n.º 44,
rua de Campolide n.º 82 - com
seus restos de tristeza, serradura e óleo.
Os santos (populares) repousam hoje
nos meus ombros terminais.
Nenhum trânsito, parcos transeuntes
hesitam em poluir a minha solidão
retórica. Um fado suspenso,
dir-se-ia, o bolor que devagar se forma
em volta de um manjerico falso.
Na porta da oficina de automóveis
uma cruz de cinza fotocopiada
justifica o ócio, a urgência de uma farda
já sem manchas de óleo (mas antes fumo
e gravata). Sim, a morte. haverá
outro assunto? Tão óbvias sempre, e
mais próximas, as carícias com que chega
ao rosto que estamos a deixar de ter.
Sem sinos nem gritos de amor
bem temperado, ouve-se na tarde
apenas o rumor íntimo e distante
de um tambor que nos chama,
incessantemente. E os poemas,
os poemas todos, lhe obedecem.
Para que seja domingo sobre a terra
que pesada e fria nos esquece,
nos esqueceu já.
Manuel de Freitas, [SIC] ,
Lisboa, Assírio & Alvim, 2002
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
Exercício de Ruptura
ela espera-o ansiosamente.
sempre que pode, sonha com ele a entrar em casa,
a mão a abrir a porta, a cumprimentar o cão de loiça,
a abrir os braços em vez de os levantar.
tem uma manta de retalhos que lhe quer oferecer
e que faz e desfaz, dado o nervosismo,
a incerteza de que o produto não é fiel.
trata as fotografias antigas por tu,
como velhas companheiras de viagem e
chora a ausência da sua antiga família.
quando vê filmes, também ela
acha que já foi rainha.
ele é camionista ou imigrante ou sei lá.
de vez em quando telefona-lhe e diz que
em breve estará em casa.
ela ouve sons, a estrada, o asfalto,
às vezes os motéis, quase que tosse de sentir tanta sujidade,
as sirenes, a água a correr.
ela quando pode deita-se e sonha.
aguarda. ele quando se deita sabe que não poderá
regressar.