quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Exercício de Ruptura


ela espera-o ansiosamente.

sempre que pode, sonha com ele a entrar em casa,

a mão a abrir a porta, a cumprimentar o cão de loiça,

a abrir os braços em vez de os levantar.

tem uma manta de retalhos que lhe quer oferecer

e que faz e desfaz, dado o nervosismo,

a incerteza de que o produto não é fiel.

trata as fotografias antigas por tu,

como velhas companheiras de viagem e

chora a ausência da sua antiga família.

quando vê filmes, também ela

acha que já foi rainha.

ele é camionista ou imigrante ou sei lá.

de vez em quando telefona-lhe e diz que

em breve estará em casa.

ela ouve sons, a estrada, o asfalto,

às vezes os motéis, quase que tosse de sentir tanta sujidade,

as sirenes, a água a correr.

ela quando pode deita-se e sonha.

aguarda. ele quando se deita sabe que não poderá

regressar.

1 comentário:

  1. Eh, pá! Tive o privilégio de te ouvir a recitar isto! :)

    Abraço e continua!

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