quinta-feira, 31 de maio de 2012

As I walked down one evening - W. H. Auden



As I walked out one evening,
   Walking down Bristol Street,
The crowds upon the pavement
   Were fields of harvest wheat.

And down by the brimming river
   I heard a lover sing
Under an arch of the railway:
   'Love has no ending.

'I'll love you, dear, I'll love you
   Till China and Africa meet,
And the river jumps over the mountain
   And the salmon sing in the street,

'I'll love you till the ocean
   Is folded and hung up to dry
And the seven stars go squawking
   Like geese about the sky.

'The years shall run like rabbits,
   For in my arms I hold
The Flower of the Ages,
   And the first love of the world.'

But all the clocks in the city
   Began to whirr and chime:
'O let not Time deceive you,
   You cannot conquer Time.

'In the burrows of the Nightmare
   Where Justice naked is,
Time watches from the shadow
   And coughs when you would kiss.

'In headaches and in worry
   Vaguely life leaks away,
And Time will have his fancy
   To-morrow or to-day.

'Into many a green valley
   Drifts the appalling snow;
Time breaks the threaded dances
   And the diver's brilliant bow.

'O plunge your hands in water,
   Plunge them in up to the wrist;
Stare, stare in the basin
   And wonder what you've missed.

'The glacier knocks in the cupboard,
   The desert sighs in the bed,
And the crack in the tea-cup opens
   A lane to the land of the dead.

'Where the beggars raffle the banknotes
   And the Giant is enchanting to Jack,
And the Lily-white Boy is a Roarer,
   And Jill goes down on her back.

'O look, look in the mirror,
   O look in your distress:
Life remains a blessing
   Although you cannot bless.

'O stand, stand at the window
   As the tears scald and start;
You shall love your crooked neighbour
   With your crooked heart.'

It was late, late in the evening,
   The lovers they were gone;
The clocks had ceased their chiming,
   And the deep river ran on. 

W. H. Auden. Another Time, 1940, Random House.


segunda-feira, 28 de maio de 2012

Um poema de Joaquim Manuel Magalhães


Despedes-te depressa destes dias
sem o sol que pensaste e te faria
rasgar de ti o que conheces.
Precisas da ignorância e do inútil.
O que sabes soterrou as energias
ao ar do mar onde há barcos e peixes
naturalmente, como tu não és.
Dentre as mãos como pinheiros as carícias
é uma forma de corroeres a vida.
Um espírito nocturno espreita das coisas,
a transitória consciência encontra análogos
nas matérias, na falsidade.
Os vagarosos gestos ocupam os lugares,
a desolada observação dos factos e dos feitos.
O brilho visionário fez-se derrota,
a perfeição nos sonhos,
uma linguagem de sentido perdido.

em Dos Enigmas, Lisboa: Moraes Editores, 1976, p. 13.
Roubado daqui.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Sirene - Um poema de Inês Lourenço


SIRENE
Bom é ter poucos amigos
poetas, para não ter de
trair a lisura do afecto
ou do texto. Mesmo esses poucos
chegam a nenhuns, se não
conseguimos elogiar epifanias
recessas, queixas piedosas ou
banalidades inócuas. Um amável
neófito muito badalado, ou um sénior
de vários prémios
literários, esperam deliciar-nos
com o verbo no cada vez mais
exíguo palco do poema
impresso. Assim ficamos sós
diante da própria e feroz espera
da negada surpresa. Como quem
adormece na ambulância
apesar da sirene.
[in A disfunção lírica, &etc, 2007]
Retirado daqui

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Prestação Social


Domingo. Algumas janelas estavam fechadas e outras
entreabertas para deixar entrar o ar quente
de Julho. Mobilizávamos os corpos
para a esplanada mais próxima. Tínhamos
a lentidão de quem acorda tarde e os olhos
semicerrados. As mãos enganam-se em carícias trocando
os hábitos naturais de quem espera em
solidão. Mais tarde, o sol baixa a sua intenção
sobre nós e escurece os sorrisos de quem sabe
que o dia termina ali. Segue-se
a noite e a certeza de que tudo é instável e o coração
não é excepção.

Da série Biografia não Oficial
(A sair um dia destes)

José Duarte 

Grizzly Bear - Two Weeks

quarta-feira, 9 de maio de 2012

No reservations - Episódio de Lisboa

Carp Poem - Terrance Hayes


After I have parked below the spray paint caked in the granite
grooves of the Fredrick Douglass Middle School sign

where men and women sized children loiter like shadows
draped in the outsized denim, jerseys, bangles, braids, and boots

that mean I am no longer young, after I have made my way
to the New Orleans Parish Jail down the block

where the black prison guard wearing the same weariness
my prison guard father wears buzzes me in, 

I follow his pistol and shield along each corridor trying not to look
at the black men boxed and bunked around me

until I reach the tiny classroom where two dozen black boys are
dressed in jumpsuits orange as the pond full of carp I saw once in Japan,

so many fat snaggle-toothed fish ganged in and lurching for food
that a lightweight tourist could have crossed the pond on their backs

so long as he had tiny rice balls or bread to drop into the water
below his footsteps which I’m thinking is how Jesus must have walked

on the lake that day, the crackers and wafer crumbs falling
from the folds of his robe, and how maybe it was the one fish

so hungry it leapt up his sleeve that he later miraculously changed
into a narrow loaf of bread, something that could stick to a believer’s ribs,

and don’t get me wrong, I’m a believer too, in the power of food at least,
having seen a footbridge of carp packed gill to gill, packed tighter

than a room of boy prisoners waiting to talk poetry with a young black poet,
packed so close they might have eaten each other had there been nothing else to eat.

Terrance Hayes, mais informação aqui

quinta-feira, 3 de maio de 2012

RMS Titanic



mas deixemo-nos de motivos
marítimos


e continuemos esta viagem
que, por si só, já é trágica


não quero saber de Leonardo DiCaprio
ou Kate Winslet 


ou do icebergue em que o barco
embateu 


isso é coisa para os que estudam
geologia


eu estudo a arte da vida
e importa-me, entretanto,


saber como terá sido 
sorver o último minuto
de ar


a boca cheia
perante a linha
de água que se agita
nos olhos


e um rio 
flutuando nos 
pulmões




Da série Cinematografias
(A sair um dia destes)


José Duarte

quarta-feira, 2 de maio de 2012

A minha rua

morei numa rua 
com nome de escritor


e o que mais me agradava
era aquela mulher que passava
constantemente com umas
pernas lindas, mesmo


quando protegidas por
motivos florais.


Da série Biografia não Oficial
(A sair um dia destes)


José Duarte

Vampirada