“Books are finite, sexual encounters are finite, but the desire to read and to fuck is infinite; it surpasses our own deaths, our fears, our hopes for peace.” ― Roberto Bolaño
quinta-feira, 30 de junho de 2016
terça-feira, 28 de junho de 2016
Um poema de Jaime Rocha
48.
A mulher mostra-se na luz, entre a folhagem.
A cor dos seus cabelos está intacta. Ela tece
um caminho para o homem, mas as mãos dele
colaram-se ao cimento, os seus olhos pararam
no tempo. Todo o seu corpo se assemelha agora
a uma árvore acorrentada pelas heras onde não
entra a música, nem o tempo que separa os dias.
As ondas sustiveram o movimento em direcção
à praia, regressando ao outro lado do horizonte.
As nuvens caíram. As aves perderam as asas.
Tudo, até os cães, desapareceu na escuridão.
Apenas umas pétalas esvoaçaram ao acaso,
seguindo o rasto dos morcegos, num último
torpor, numa vergonha.
Jaime Rocha. Necrophilia. Lisboa: Relógio d'Água. 2010.
A mulher mostra-se na luz, entre a folhagem.
A cor dos seus cabelos está intacta. Ela tece
um caminho para o homem, mas as mãos dele
colaram-se ao cimento, os seus olhos pararam
no tempo. Todo o seu corpo se assemelha agora
a uma árvore acorrentada pelas heras onde não
entra a música, nem o tempo que separa os dias.
As ondas sustiveram o movimento em direcção
à praia, regressando ao outro lado do horizonte.
As nuvens caíram. As aves perderam as asas.
Tudo, até os cães, desapareceu na escuridão.
Apenas umas pétalas esvoaçaram ao acaso,
seguindo o rasto dos morcegos, num último
torpor, numa vergonha.
Jaime Rocha. Necrophilia. Lisboa: Relógio d'Água. 2010.
domingo, 26 de junho de 2016
sexta-feira, 24 de junho de 2016
Manuel de Freitas - poema de Game Over
Estas escadas tinham degraus
onde por acaso nos sentámos
à espera de não ver gaivotas,
com livros abertos
quando as mãos chegavam.
onde por acaso nos sentámos
à espera de não ver gaivotas,
com livros abertos
quando as mãos chegavam.
De novo e despercebida e só,
acendia-se para morrer na tarde
a inútil figuração do desejo.
acendia-se para morrer na tarde
a inútil figuração do desejo.
E éramos outra vez nós
os seus irrepetíveis figurantes,
escondidos num poema
que o tempo pisou, deixa lá
– o recomeçado amor descendo.
os seus irrepetíveis figurantes,
escondidos num poema
que o tempo pisou, deixa lá
– o recomeçado amor descendo.
Manuel de Freitas. Game Over. Lisboa: &etc.
quarta-feira, 22 de junho de 2016
segunda-feira, 20 de junho de 2016
The Expendables 2 - Sam Riviere
The airport where all movies end:
the scenery’s mobile, the people too
(the people want to be moved),
and the rounded stairways join set pieces
like farewells in a series arc. I don’t
understand how you write good scripts
without knowing there are gods. I’ve
learned the same things we’ve all learned:
when a man runs through my hotel suite
I can expect another half a second later.
Also, tell me why I keep two keys,
one of which unlocks something.
Also, I know, we know, that you (hell-o)
will have vanished before I finish saying this
and turn around. “You’ll do that,” I’ll mention
to the night, and spin my swivel chair,
perusing the moment’s sunkenness. Meanwhile
my antivirus angel is checking every file.
We both know there’s a place you touch
when your plane lifts off (I won’t say where),
a little bolt that takes the plot apart,
so closure is dismantled, because from here
you can admit that nothing’s ever ended well.
You have queued to show your documents.
You have left behind your possessions
for the kind scientists. The stairs have spun
away and sunk, and in losing your itinerary
your position is confirmed. Like, the first time
sábado, 18 de junho de 2016
quinta-feira, 16 de junho de 2016
terça-feira, 14 de junho de 2016
segunda-feira, 13 de junho de 2016
Um poema de Tiago Gomes
Dirty Realism
Todos os dias
Todos os dias
Todos os dias
Todos os dias
O último de todos os dias.
Luta livre.
Arrumar o dia.
As mochilas dos miúdos
o jantar e a Tv.
Todos arrumados
com socos na barriga.
De Auto-Ajuda. Lisboa: Mariposa Azual, 2009.
Todos os dias
Todos os dias
Todos os dias
Todos os dias
O último de todos os dias.
Luta livre.
Arrumar o dia.
As mochilas dos miúdos
o jantar e a Tv.
Todos arrumados
com socos na barriga.
De Auto-Ajuda. Lisboa: Mariposa Azual, 2009.
sábado, 11 de junho de 2016
quinta-feira, 9 de junho de 2016
terça-feira, 7 de junho de 2016
domingo, 5 de junho de 2016
Melancolia - Bernardo Pinto de Almeida
Os papéis falam uns com os outros
Sobre esta mesa onde a sombra cai
A lâmpada esquecida tem remorsos
Da luz que antes lhe deu que se esvai.
Nas paredes que antes quadros coloriram
Sobre papel sedoso de ramagens
Ecoam dias em que vozes riram
Jarras de cristal com flores selvagens.
Já partidos os vidros nas janelas
A glicínia sobre os muros sinuosa
Conforme o sol ondula se reclina
Ervas crescem no jardim por elas
Pois já nenhuma mão colhe sua rosa.
Tudo se abandona a ser em ruína.
Bernardo Pinto de Almeida. Hotel Spleen. Lisboa: Quetzal, 2003.
Bernardo Pinto de Almeida. Hotel Spleen. Lisboa: Quetzal, 2003.
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