Seja como for, só te podes culpar a ti mesmo.
De algum modo, sempre foste fascinado
pelas estrelas. Mas um céu nebuloso decidiu
juntar-se a ti, sombras opacas num jogo
complicado. Já não é como um vestido,
não podes espreitar por baixo. Setembro
traz consigo os dias curtos. Tens de encontrar
um refúgio, por mais pequeno que seja.
Vítor Nogueira. Segunda Voz. Lisboa: Averno, 2014.
“Books are finite, sexual encounters are finite, but the desire to read and to fuck is infinite; it surpasses our own deaths, our fears, our hopes for peace.” ― Roberto Bolaño
sábado, 29 de setembro de 2018
quinta-feira, 27 de setembro de 2018
terça-feira, 25 de setembro de 2018
Fim da Era - Manel Seatra
As paredes fecham-se aos intrusos, a cidade torna-se num cubo de luzes e suspiros e
as rotundas são sempre desenhadas a compasso, sem falhas de circunferência
imprecisa ou de batota nos cálculos.
Dias de Folga. Lisboa: Douda Correria, 2018.
domingo, 23 de setembro de 2018
sexta-feira, 21 de setembro de 2018
De Negociar e Traficar - Helga Moreira
De negociar e traficar
estou farto.
Je est un autre.
A que distância dele, disso,
em outro me tornei?
Escrevo à minha mãe.
Quantas dores, queixumes lhe envio?
Dou-lhe conta de desacertos
lucros, prejuízos.
Je est un autre.
Sempre o soube.
Acaso saberei?
Isto te queria dizer, mãe.
Perdi a vida.
Par délicatesse, par délicatesse.
Por apenas isso, pedir.
Isto te queria dizer, mãe,
na última carta que não escrevi.
Agora que falamos de morrer, 2006.
estou farto.
Je est un autre.
A que distância dele, disso,
em outro me tornei?
Escrevo à minha mãe.
Quantas dores, queixumes lhe envio?
Dou-lhe conta de desacertos
lucros, prejuízos.
Je est un autre.
Sempre o soube.
Acaso saberei?
Isto te queria dizer, mãe.
Perdi a vida.
Par délicatesse, par délicatesse.
Por apenas isso, pedir.
Isto te queria dizer, mãe,
na última carta que não escrevi.
Agora que falamos de morrer, 2006.
quarta-feira, 19 de setembro de 2018
segunda-feira, 17 de setembro de 2018
sábado, 15 de setembro de 2018
quinta-feira, 13 de setembro de 2018
terça-feira, 11 de setembro de 2018
segunda-feira, 10 de setembro de 2018
sábado, 8 de setembro de 2018
quinta-feira, 6 de setembro de 2018
terça-feira, 4 de setembro de 2018
Apareció bella y esquiva - Serdan Zelaya
Apareció bella y esquiva.
Callada también.
Era una mujer hecha de finales
sus ojos terminaban algo
sus manos con un fin inequívoco.
Nada en ella comenzaba.
Su pelo derrumbado
de besos acostados
y el desnudo agotado.
Callada también.
Era una mujer hecha de finales
sus ojos terminaban algo
sus manos con un fin inequívoco.
Nada en ella comenzaba.
Su pelo derrumbado
de besos acostados
y el desnudo agotado.
domingo, 2 de setembro de 2018
NIGHTHAWKS AT THE DINNER - Manuel de Freitas
Não sei se existe isto de que falo,
mas deixa-me reparar um pouco
no teu modo ternamente animal
de confundir palavras e sentimentos,
num quase-silêncio desabrigado e informe.
Um corpo serve para muito pouco,
desde os caprichos da libido
às infecções urinárias. Coisas às vezes
parecidas que disfarçamos com vinho
e com uns restos de astúcia. Não me ouças,
se não quiseres. Ainda não se perdeu o lume
das mãos redondas com que te despes
a um canto, singularmente igual
ao que de ti recordo num outro Inverno
distante. Deixemo-nos ficar esta noite,
enquanto Tom Waits nos volta a falar
de um camião chamado Phantom 309
ou de outra coisa qualquer, singularmente
igual - um pouco mais triste, talvez.
Não é isso que importa. Também cada um de nós
terá um dia de se despistar ao encontro
de alguma certeza irrisória e no entanto mortal.
Que o vinho não acabe, entretanto, e
que as canções não pereçam nesta noite
cativa do lume mas friamente corrupta.
Só nos teus lábios posso encontrar os teus lábios.
Eis uma parva verdade a que por vezes regresso,
mais importante decerto do que a sagesse de Verlaine
ou do que aquele velho bar onde dantes, pelo
fim da tarde, cumpríamos o amor. Deixa lá, no exacto
sítio da morte, essa teimosa paixão que não morre
nem finge viver. Tudo isto é inútil, embora
o empadão estivesse bom e eu já não saiba sequer
quantos anos passaram desde que um ao outro
oferecemos o engano e a miséria de um rosto.
O vinho depressa acabou, e é entre os teus seios
que agora adormeço, como se houvesse um lugar.
Daqui a algumas horas esperar-nos-á,
crudelíssimo, o terror tépido de mais um domingo
absolutamente dispensável. Só então saberemos
o que desta noite há-de a memória roubar.
Talvez um perfume a doer-lhe feliz, ou as roucas
onomatopeias de uma certeza insegura
- do lado mais esquivo da morte.
Mas bastam-me para já as mãos redondas
gentis que fazem chover o teu nome
sobre as ruas desertas do meu coração.
Manuel de Freitas, Sunny Bar. Alambique, 2015
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