A casa fica sempre demasiado longe,
até mesmo para quem, como tu,
conduzia apressado
um carro negro aceso sob a chuva.
Eram os primeiros dias.
Com o rádio desligado
murmuravas uma canção qualquer, decerto triste,
pois amar uma sombra, e uma sombra apenas,
não encerra nenhum mistério.
Fora
o silêncio húmido era às vezes atalhado
pelo breve grasnar contínuo das gaivotas.
O fumo do cigarro ainda quente pesava sobre o ar,
tornava mais difusa a imagem da planície
que os faróis fundidos no nevoeiro dividiam.
Eram os primeiros dias.
A teu lado, uma rapariga
calada olhava o retrovisor.
Em retirada, os pássaros
eram de súbito devorados pela música.
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