A Balada de Bonnie & Clyde
eu não lhe chamo crime
eu chamo-lhe amor,
amor louco para ser mais correcto
sexo em movimento
o corpo em alerta
a brisa da velocidade
que circula
por entre as janelas
abertas do carro
e o sentido de liberdade
que outra estrada
não pode dar
ela enconstada
no ombro dele
vieram de longe
e continuam esfomeados
pelo horizonte
pelo menos ele
a quem a visão ainda
continua turva
pela circulação
que ela alimenta
mas a que reconhece
um fim
não há hipótese
de ir continuando
apenas
sem limites
nem barreiras
fugindo às regras
obedecendo ao romance
como Eva ela
dá-lhe a comer a maçã
como Adão ele aceita
a visão toldada
com os óculos
de um lado
vendo claramente
do outro
adivinhado uma
certa escuridão
da paragem que, na certa,
lhes impõe um fim
armadilhado
em câmara lenta
ele olha para ela
ela olha para ele
tem as mãos no volante
ele dá um passo em frente
por momentos
o ar engrossa
torna-se pesado
sustemos a respiração
as aves
desprendem-se
das árvores
e voam
os corpos
tombam
warren beatty,
faye dunaway,
Clyde,
Bonnie
para sempre.
Da série Cinematografias
(A sair um dia destes)
José Duarte
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