segunda-feira, 19 de março de 2012

Um novo poema

A Balada de Bonnie & Clyde

crime, alguém gritou!

eu não lhe chamo crime
eu chamo-lhe amor,
amor louco para ser mais correcto
sexo em movimento
o corpo em alerta

a brisa da velocidade
que circula
por entre as janelas
abertas do carro
e o sentido de liberdade

que outra estrada
não pode dar

ela enconstada
no ombro dele

vieram de longe
e continuam esfomeados
pelo horizonte

pelo menos ele
a quem a visão ainda
continua turva
pela circulação

que ela alimenta
mas a que reconhece
um fim

não há hipótese
de ir continuando
apenas

sem limites
nem barreiras
fugindo às regras
obedecendo ao romance

como Eva ela
dá-lhe a comer a maçã
como Adão ele aceita

a visão toldada
com os óculos

de um lado
vendo claramente
do outro
adivinhado uma
certa escuridão

da paragem que, na certa,
lhes impõe um fim
armadilhado

em câmara lenta
ele olha para ela
ela olha para ele

tem as mãos no volante
ele dá um passo em frente

por momentos
o ar engrossa
torna-se pesado

sustemos a respiração

as aves
desprendem-se
das árvores
e voam

os corpos
tombam

warren beatty,
faye dunaway,
Clyde,
Bonnie

para sempre.

Da série Cinematografias
(A sair um dia destes)

José Duarte

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