Com janelas de árvores à espreita numa floresta inteira
e ao centro as pedras que furam as orelhas
com um medo branco carregado de cordas e navios afundados
Uma perna estende a imobilidade para dentro
e uma torre submersa rodeada de olhos
fixa no ar a mesma longitude
e ordena a remoção da perna perdida do homem
Então constroem-se novos países
colonizam-se o mar por baixo e cada bandeira
tem doze moinhos ao vento
e uma espinha dorsal por quebrar
Num vespeiro produz-se um medo espesso
dissimulado de cemitérios e territórios ocupados
repletos de jardineiros a recortar a história
e os ouvidos ocupados na crepitação da carne
Erguem-se portões carregados de cedros
e pedras que nunca dão pea falta das flores na terra
até ao dia em que a fronteira cede e o país é outra vez
uma estrada de passagem um dia mais curto
ou uma hora mais tarde
E as fábricas suspiram nas vedações
com os operários de luz ao alto da cabeça
a demonstrar e a reproduzir uma harmonia
um sacramento de sentinelas subterrâneas
e a perpetuar o mistério sobre a terra
in Cartas de Praga, Clube Português de Artes e Ideias, 2010.
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