sexta-feira, 17 de maio de 2013

Para desenterrar o grande cepo do poema e voltar a enterrá-lo - Miguel-Manso


aquele que caminha de um lugar que não sabe
a um lugar que não pode, meteu agora pela travessa dos arcanos
das difíceis coisas mínimas que enxameiam sob a terra
e por cima dos joelhos

mudará de arredores com a leve motricidade vocabular
até lhe arderem todos os aspectos, as visões
e o prodígio se transforme em préstimo elucidário de nenhuma
sabemos já, alegria ou valimento

está certo: um erro em muitos erros deixará o ledor (quem é?)
boquiaberto

provado parentesco o nosso
na verdejante paisagem do exuberar mental: um escreve escuro
montanhoso; o outro repara, se repara, nesse nexo
solitário e da linhagem de Anthero

pouco chic, hoje, este infortúnio dos versos
o diabo
da ideia, sinuosamente entrecortado de proveitos poucos
onde a mais teclada carne não é mais que o corpo
velho chamado Humanidade

por ora, todavia, o destapar dos detalhes não supera 
a rotativa duração que nos transporta, nem esta monografia
conversa com a grandíloqua divindade, conserva
o gesto que se dirige ao gigantesco assunto de que nunca
ouviremos falar

vou dizer-vos
eu estava em deslocação pela noite do metro, olhando
o meu reflexo no vidro, atravessando aquele medo
havia, por cima e em volta, essa mesma claridade que nos engana
quotidianamente

então eu via o meu reflexo, parado, e para lá do meu parado
reflexo passavam num relâmpago sucessivo e baço
as paredes do sentido (o túnel) riscadas de coloridas tubagens
ora

eu estava parado dentro do movimento vasto do engano
lembrei-me de sonhar que podia ser tudo aquilo verdade
a associada circunstância de eu estar morto, de eu estar vivo
de ser esse o exacto, irresoluto, lugar da poesia

Mais aqui.

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