Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
cercado de hábitos
e de conteúdos que nada e que tanto
predizem
cascalho que o íntimo da casa
importa para o malquerido usufruto
porcelanas que reluzem a cada almoço
aquém e além persianas
coisas
que multiplicam até ao sufoco
e pior que coisas a qualidade que têm
que lhes pomos
escrevo nomeando tudo
e tudo transcende o nome que tem
tudo alarga de inominável
brilho
E fere a vista, com brancuras quentes,
A larga rua alcatroada
o mesmo alvor mas filtrado têm
os matizes domiciliados as translucidezes
de que me sirvo para inteirar
o esqueleto confuso destes versos
triste — e clemente — quem neles pousa
agora o olhar.
Miguel-Manso. Persianas. Lisboa: Tinta da China, 2015.
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