segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

asfalto - assalto

toda a história é uma tragédia,
os personagens encontram-se sempre
num certo escuro
de ombros encolhidos

fugir parece ser a solução ideal
mas nem isso concede a tão
almejada liberdade

resta conduzir
sem destino
ou sem destino
conduzir
sabe-se lá bem para onde

o carro - a cidade
a casa - o carro
e tu, enconstada no meu ombro,
os teus olhos duas covas fundas
da qual saem lágrimas de cinza

e eu, cansado, cigarro ao canto
da boca e a desconfiança
do retrovisor
não vá o passado trair-nos.

que disparate
e sigo aquela linha branca
agarro com força, as mãos
no volante.
meto a quinta
e acelero
acelero
a-ce-le-ro

a pulsação
pneus a chiar
são e salvo

agora que descemos
o desfiladeiro
como thelma e louise

bem, não como elas,
mas quase.

um sobressalto
do assalto
ao meu coração.

Da série Cinematografias
(A sair um dia destes)

José Duarte

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