os personagens encontram-se sempre
num certo escuro
de ombros encolhidos
fugir parece ser a solução ideal
mas nem isso concede a tão
almejada liberdade
resta conduzir
sem destino
ou sem destino
conduzir
sabe-se lá bem para onde
o carro - a cidade
a casa - o carro
e tu, enconstada no meu ombro,
os teus olhos duas covas fundas
da qual saem lágrimas de cinza
e eu, cansado, cigarro ao canto
da boca e a desconfiança
do retrovisor
não vá o passado trair-nos.
que disparate
e sigo aquela linha branca
agarro com força, as mãos
no volante.
meto a quinta
e acelero
acelero
a-ce-le-ro
a pulsação
pneus a chiar
são e salvo
agora que descemos
o desfiladeiro
como thelma e louise
bem, não como elas,
mas quase.
um sobressalto
do assalto
ao meu coração.
Da série Cinematografias
(A sair um dia destes)
José Duarte
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