Cena de Lost in Translation, Sofia Coppola, 2004
Japão,
não é óbvio?
talvez não falemos a mesma língua tu e eu
eu e tu,
e, por isso, estamos ambos perdidos na tradução
do que a nossa língua pode querer dizer
e deambulamos por esta cidade cheia de luzes
nos nossos olhos cheios de
jet lag abandonados nos copos
que se vão bebendo
aqui ou ali
acende-se um cigarro
e sabe-se que a solidão pode ser
uma coisa banal
sentados num bar de um qualquer
restaurante à procura
do próximo pequeno delito
um engate, talvez, quem sabe
um encontro com o primeiro amor
se o conseguissemos voltar a recuperar
nem que fosse por segundos
instantes fugazes
a vida é mesmo assim
eu sentado, cansado
em silêncio
não vá o barulho tornar as coisas
ainda mais difíceis
como não sabemos falar -
o coração tem destas coisas -
tu encostas a tua cabeça no meu ombro
tu não és tu
tu és tu com uma cabeleira e, portanto,
podemos encenar um falso amor
uma espécie de ikebana
para dois corações
não fossem estar destroçados
por algum motivo
qualquer que é, com toda a certeza,
obscuro
o pior disto tudo é que depois
de tanto tempo
de versos que já seguiram o seu
caminho
por lugares estranhos
e línguas
que nem eu, nem tu falamos
o pior disto
é mesmo
nem sequer podermos
partilhar
os nossos
segredos a não ser que sejam
sussuros
que ninguém entende
como numa
breve história
de amor.
Da série Cinematografias
(A sair um dia destes)
José Duarte
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