Atropelamento mortal |
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Nalgum oásis do princípio ele fora um fugitivo brilho no olhar de Deus -a vida havia de lho lembrar muitas vezes. Atravessou as nossas ruas entre gatos, a chuva molhou-lhe as pobres botas cambadas. Teve um banco de jardim, teve amigos, um deles o sol. Sempre sem o saber procurou Deus. Um dia foi campos fora atrás dele, perdeu o emprego na Câmara Municipal. Teve mãe mas depois nunca mais foi solução para ninguém. Naquele dia a morte instalou-o confortavelmente no céu. Lá se foi com seus modos humanos, seus caprichos e um notório acanhamento em público (há-de a princípio faltar-lhe à-vontade entre os anjos). Tinha o nome no registo, agora habita nas planícies ilimitadas de Deus. Nas suas costas ainda se derrama a tarde interrompida. Manhãs e manhãs desfilarão sobre ele, caracóis cobrirão a memória daquele que foi da sua infância como qualquer de nós. Teve um nome de aqui, andou de boca em boca, agora é Deus que para sempre o tem na voz.
Ruy Belo Aquele Grande Rio Eufrates |
“Books are finite, sexual encounters are finite, but the desire to read and to fuck is infinite; it surpasses our own deaths, our fears, our hopes for peace.” ― Roberto Bolaño
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
Um poema de Ruy Belo
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