segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Um poema de José Duarte


VI

Atentos ao pregador como um relâmpago
todas as vozes se juntaram para cantar os
uivos da tormenta. Capítulo primeiro:
bem profundos são os abismos da alma
do próprio ventre da baleia.
Sondamos o fundo das águas,
pecadores do
coração empedernido.
Não interessa. É nesta
desobediência que toda
a extensão do mundo
ensaia Sodoma,
enquanto Jonas não reconhecer
um homem honesto com a próxima maré.
O ar circula mal devido
ao peso da alma, cujo sangue
se esvai incessantemente.
O mar revoltou-se por cima
da cabeça de Jonas com
a boca escancarada para engoli-lo.
A lua pálida ilumina tudo em vão.
A baleia cerra os dentes
de marfim.
Apaziguou-se.
Erecto e de olhos fechados ficou
para ouvir dos mais violentos turbilhões.
Ordenou à baleia, com
as orelhas ainda cheias do rumor do oceano,
a verdade, felicidade segura, profunda
e cobriu o rosto com as mãos.

in Dias de Tempestade, 2012, edição de autor. 

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