“Books are finite, sexual encounters are finite, but the desire to read and to fuck is infinite; it surpasses our own deaths, our fears, our hopes for peace.” ― Roberto Bolaño
quarta-feira, 26 de junho de 2013
terça-feira, 25 de junho de 2013
segunda-feira, 24 de junho de 2013
quinta-feira, 20 de junho de 2013
Um poema de José Duarte
o dia começa a encolher
como os corpos
retiram-se dos armários
roupas que a naftalina cristalizou
para o bem
da circulação
Uma Certa Estação, a sair um dia destes
quarta-feira, 19 de junho de 2013
A poem by Michael Madsen
it is not as if the lights were dim
indeed silver is black
and the day as dark
indeed silver is black
and the day as dark
sitting silently in a sliver of ray
the sun is whole again
the sun is whole again
forgotten is the excuse of night
he falls responsibly
and the day is dark
he falls responsibly
and the day is dark
floating frightfully from that of grace
a soul is awake again
a soul is awake again
blind from that which is love
the prism of shackles and chains
darkness becomes the way
the prism of shackles and chains
darkness becomes the way
easterly dreams seek shelter from the weak
running from rain ... eclipsed
running from rain ... eclipsed
Retirado daqui.
terça-feira, 18 de junho de 2013
segunda-feira, 17 de junho de 2013
A Balada do Café Triste - Pedro Mexia
Comprei-lhe «A Balada do Café Triste»
depois de quase ter passado por ladrão
de livros, mexendo-lhes sem olhar
para eles enquanto rondava de todos
os lados aqueles olhos que se viam
de qualquer ponto da feira, mesmo
se houvesse obstáculos o verde
atravessava-os, o verde tornava tudo
verde entre mim e ela, e no meio
dessa cor unânime a rapariga
era ainda mais. Pouco importa,
leitor, se houve depois alguma história,
entre homem e mulher não se passa
muito mais: uns olhos que de repente
são necessários e pelos quais passamos
por ladrões de livros ou pior.
Nunca li «A Balada do Café Triste».
Menos por Menos, D. Quixote, 2011.
sábado, 15 de junho de 2013
Cinema
sexta-feira, 14 de junho de 2013
AS COISAS DO CORPO - Inês Fonseca Santos
Demasiado internas para lhes conhecermos os contornos.
Demasiado ocultas para lhes saber as razões.
Ostensivas, as coisas do corpo exibem-se perfeitas. Segundos
em que cheguei a odiá-las. Estavam demasiado longe
dos lugares a que devíamos regressar quando eu envelhecesse.
Puxei-te pela mão. A mão soltou-se do teu corpo.
Coloquei-a no lugar do coração; com as unhas
construí um fecho novo para o colar de pérolas;
vendi a pele e voltei a encher o frigorífico.
Alguém se sentou à mesa. Tinha o teu nome gravado;
um rosto sem marcas, irreconhecível,
aguardava a mão capaz de lhe levar coisas à boca.
Coisas de alimento às coisas do corpo. Como esta mão a bombear-te
o coração do lado errado do peito.
Demasiado ocultas para lhes saber as razões.
Ostensivas, as coisas do corpo exibem-se perfeitas. Segundos
em que cheguei a odiá-las. Estavam demasiado longe
dos lugares a que devíamos regressar quando eu envelhecesse.
Puxei-te pela mão. A mão soltou-se do teu corpo.
Coloquei-a no lugar do coração; com as unhas
construí um fecho novo para o colar de pérolas;
vendi a pele e voltei a encher o frigorífico.
Alguém se sentou à mesa. Tinha o teu nome gravado;
um rosto sem marcas, irreconhecível,
aguardava a mão capaz de lhe levar coisas à boca.
Coisas de alimento às coisas do corpo. Como esta mão a bombear-te
o coração do lado errado do peito.
As Coisas, Abysmo, 2012.
quarta-feira, 12 de junho de 2013
terça-feira, 11 de junho de 2013
domingo, 9 de junho de 2013
MÓBIL E CADERNO DA TERRA - Miguel-Manso
o arcebispo de Armagh calculou em 1650
que o mundo começou no ano lacónico de 4004 a. C.
no dia 26 de Outubro às 9 horas da manhã
(a 10 de Novembro
menos de um mês depois
dá‑se a expulsão do Paraíso)
como se tivessem disposto salsa ou hortelã num vaso
ou feito explodir a estação pura de dentro da era
grotesca dos patriarcas
nessa manhã séculos depois
Erwin Schrödinger bebia da boca de um pássaro um oceano novo
colapso chamemos‑lhe assim de um abacate verde‑abacate
poisado na fruteira da cozinha muitos metros afastada
do início dos tempos
olho a Terra, vazia, incomum
fique o leitor apenas pelas assunções do poema
único método de mover o desusado tecido da realidade
sumo de um cacho amargo a minha grande surpresa
cacho de teóricas uvas uma maçã de asserto quântico
polpa, dígito, osso malar
primeiríssimo calendário
in Tojo, Relógio d'Água, 2013
(Uma antologia de poemas de Miguel-Manso)
quinta-feira, 6 de junho de 2013
quarta-feira, 5 de junho de 2013
terça-feira, 4 de junho de 2013
ALEXANDRA LEAVING / ALEXANDRA LOST - Catarina Barros
vim sentar-me n’O Lírio como em tempos
me sentei nas esplanadas da Albisriederplatz
não há aqui menos estrangeiros nem eu
me sinto menos só. na igreja de São Domingos
rezam a missa: Ich bin der Weg, die Wahrheit
und das Leben; alheios a isto, um homem
transporta cervejas para a tasquinha A Sacristia
e mulheres de lenço cruzam-se no pronto-a-vestir
Gao Jinyuan. Lisboa não podia
estar mais feliz do que neste snack-bar onde
não há aqui menos estrangeiros nem eu
me sinto menos só. na igreja de São Domingos
rezam a missa: Ich bin der Weg, die Wahrheit
und das Leben; alheios a isto, um homem
transporta cervejas para a tasquinha A Sacristia
e mulheres de lenço cruzam-se no pronto-a-vestir
Gao Jinyuan. Lisboa não podia
estar mais feliz do que neste snack-bar onde
nem o acento grave, como é tão habitual na nossa
restauração, se fez substituir pelo agudo:
cozido à portuguesa
vinho branco à pressão
hà sopa da pedra
não importa o postal Fábrica dos Produtos Coração
que não cheguei a enviar, nem os tão mal
remunerados trabalhos do amor, nada do que
não pude concluir, as aulas de ballet, o curso de piano,
cozido à portuguesa
vinho branco à pressão
hà sopa da pedra
não importa o postal Fábrica dos Produtos Coração
que não cheguei a enviar, nem os tão mal
remunerados trabalhos do amor, nada do que
não pude concluir, as aulas de ballet, o curso de piano,
o plano de recuperação da mãe. distribuo cigarros,
não me furto aos cinco cêntimos (são p’ra comer)
e reparo, antes de abandonar a cena rumo à Praça
dos Restauradores, num anúncio que me tinha passado
despercebido: hà rapariga sem nada a perder
não me furto aos cinco cêntimos (são p’ra comer)
e reparo, antes de abandonar a cena rumo à Praça
dos Restauradores, num anúncio que me tinha passado
despercebido: hà rapariga sem nada a perder
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